Esta é a terceira publicação da série especial do Vibee sobre o Dia Internacional das Mulheres 2022. Nas próximas semanas, veremos mais empreendedoras por aqui. Fique ligado!

O Female Founders Report, da Distrito, traz um dado que precisa ser abordado com bastante atenção neste 8 de março. Apesar do crescimento do ecossistema de startups e venture capital no Brasil, com recordes alcançados nos últimos anos, apenas 4,7% das startups brasileiras foram fundadas exclusivamente por mulheres e 5,1% por mulheres e homens. Ou seja, mais de 90% desses negócios possuem somente homens em seus quadros de fundação. 

O protagonismo feminino, felizmente, tem crescido em muitas áreas, mas nos ecossistemas de inovação, vemos que o caminho é longo. Aqui no Vibee, muitas das nossas startups aceleradas tem mulheres como CEOs ou como integrantes, desempenhando papeis fundamentais no desenvolvimento de ideias e serviços inovadores na área da saúde. 

Temos muito orgulho de contar com elas na construção da nossa colmeia, que cresce cada dia mais, com mais protagonismo e importância no cenário nacional. 

Por isso, entendemos que este 8 de março deve ser de reflexão, e convidamos elas, nossas empreendedoras, para compartilhar um pouco de suas histórias, trajetórias, desafios e aspirações para o futuro. 

Bora conferir?  

Ihvi Aidukaitis | Receita Digital

BIO: Ihvi é fundadora da startup Receita Digital e Head de Produto na Consulta Remédios. É ex-presidente da Associação Brasileira de Startups de Saúde e atua como mentora nos programas Mulheres Inovadoras Finep, HackingRio, entre outros. É co-autora do capítulo de saúde do livro “Smart Cities | Cidades Inteligentes nas Dimensões: Planejamento, Governança, Mobilidade, Educação e Saúde”. 

Poderia nos contar um pouco da sua jornada? O que te inspira/inspirou a empreender? 

Sempre fui apaixonada por tecnologia, heavy user e early adopter. Junto a isso, sempre tive um olhar empreendedor, de ver as coisas ao redor e pensar como elas poderiam ser melhores. Juntando os 2, naturalmente comecei a olhar para problemas do meu cotidiano e pensar em como a tecnologia poderia ajudar a resolver aqueles problemas. Foi assim, participando de um startup weekend em 2017, que olhei para um problema pessoal e percebi como a tecnologia poderia não só melhorar este problema, mas revolucionar o mercado. Assim nasceu a Receita Digital. 

Resumindo, o que me inspira a empreender é o inconformismo. Se olho para algo que poderia (ou deveria) ser melhor, logo penso em como resolver!

Principais desafios das mulheres no ecossistema empreendedor?  

 Mulheres precisam sempre lidar com a desconfiança, provar que são capazes, não importa quão qualificadas sejam. 

Além disso, é muito mais fácil se relacionar com pessoas com as quais você se identifica. Se os tomadores de decisão são, em sua grande maioria, homens, as mulheres sempre estarão em desvantagem na hora de negociar, vender, fechar parcerias, levantar investimento. 

Todos esses fatores são motores negativos (puxam pra trás) para o sucesso do empreendedorismo feminino. 

É mais difícil fechar negócios, crescer, ter visibilidade, e levantar investimento. 

Como você enxerga a inserção das mulheres nos ambientes de inovação no futuro?  

Toda diversidade é benéfica. Diversidade de pensamento, de visão, de experiências, de cultura. Além disso, quanto mais mulheres tiverem sucesso neste ambiente, mais mulheres serão inspiradas e atuar nesse mercado. 

Ver uma mulher de sucesso em ambientes de inovação faz com que mulheres e meninas aspirem estas posições, e acreditem que estes espaços pertencem sim a elas. As mulheres vão sim ocupar cada vez mais espaços de destaque nesses ambientes, e essa transformação precisa acontecer de forma muito mais veloz, intencional. 

Mas muito mais do que ser bom para as mulheres e futuras gerações de mulheres, ter mais mulheres em ambientes de inovação é muito mais importante para a própria inovação. 

Quais dicas você daria para outras empreendedoras? 

Participem de redes de apoio. Conversem com outras empreendedores, peçam ajuda, se arrisquem, perguntem, insistam, não peçam licença. Não tenham medo de não agradar. 

Precisamos parar de nos desculpar por priorizar nós mesmas e nosso sucesso, e trabalhar por isso. 

Luciana Alves | Receita Digital

BIO: Luciana está como sócia e Product Manager da startup Receita Digital/Consulta Remédios. Atuou na área de marketing & incentive marketing por mais de 10 anos no setor financeiro. É pós-graduada em gestão de marketing de serviços e gestão de negócios.

Poderia nos contar um pouco da sua jornada? O que te inspira/inspirou a empreender? 

Trabalhei no mercado financeiro na área de marketing e incentive marketing durante 11 anos. Me mudei da capital mineira para o interior do Mato Grosso do Sul, uma realidade bem diferente das grandes capitais: infraestrutura deficiente, e acesso à saúde ainda pior, sempre dependendo da capital para procedimentos simples como uma consulta médica. 

Sempre fui inquieta, questionadora e sempre tive vontade de aprender. Ajudei meu marido voluntariamente na Defensoria Pública do MS e me deparei com situações e a realidade da população, com filas de espera/ agendamentos de meses para uma simples consulta médica. 

Vivendo neste cenário, e em visita à MG, discuti o assunto com um familiar que é médico. Falávamos sobre a possibilidade da telemedicina e como essa questão poderia ser minimizada. Foi aí que conhecemos a Ihvi e o projeto da Receita Digital em um grupo de inovação. Me empolguei com a solução, investi na ideia e me tornei sócia em 2019 quando o projeto ainda estava saindo do papel. 

Em resumo, o que me inspirou a empreender foi a possibilidade de oferecer algo melhor ao outro (empatia), e a minha necessidade de sair da zona de conforto, vivendo um processo de adaptação a uma realidade que observava e me incomodava muito. 

Para a ciência, inspiração nada mais é do que a capacidade de fazer novas conexões com aquilo que já possuímos. E acredito que foi exatamente isso que tentei fazer, a conexão da tecnologia com uma realidade (problema) que assistia diariamente no interior. Imagine: quantas pessoas são beneficiadas por um produto ou serviço se adaptarmos uma tecnologia de outro setor para a área da saúde.

Principais desafios das mulheres no ecossistema empreendedor? 

Alcançar o mesmo patamar de credibilidade e confiança do homem, ao adotar a mesma posição ou o mesmo discurso. Desmistificar o fato de que vontade de crescer e construir algo, não é um simples fato de “empoderamento feminino” e sim uma necessidade “humana” sem gêneros ou posição social.

Como você enxerga a inserção das mulheres nos ambientes de inovação no futuro? 

As mulheres hoje lutam por um futuro profissional com igualdade de oportunidades. Acredito que esse não será um aspecto resolvido de uma hora para a outra. Naturalmente novas posições e profissões com necessidades de conhecimentos específicos virão e vamos continuar a trabalhar e a buscar o nosso lugar. 

Mas acredito que como somos seres com uma inteligência emocional diferenciada e habilidade multifocal, capazes de administrar várias coisas ao mesmo tempo, somos capazes de fazer conexões de diferentes áreas com originalidade e criatividade.  

Acredito que essas características possam valorizar ainda mais a posição da mulher pra contribuir com produtos e serviços inovadores e gerar um impacto social transformador.

Quais dicas você daria para outras empreendedoras?

Acredite no seu potencial e busque conhecimento e referências positivas que possam ser sua inspiração.

Tenha paciência e muita resiliência para lidar com os problemas e com as barreiras do mercado. Se provar como empreendedora faz parte do processo para nós que somos mulheres.